Marcos Faerman na redação do jornal Versus, em foto de Rosa Gauditano

Marcos Faerman na redação do jornal Versus, em foto de Rosa Gauditano

Um olhar sobre a América Latina

Criado pelo jornalista Marcos Faerman durante a ditadura militar, o jornal Versus fazia uso de diferentes linguagens - texto, quadrinhos, fotografia, desenho - para denunciar a opressão e a resistência na América Latina

Versus foi um jornal alternativo idealizado por Marcos Faerman e dirigido por ele de 1975 a 1978. Propunha a cultura como forma de ação política e foi inovador no uso de metáforas culturais e históricas para, além das grandes reportagens factuais, oferecer textos sobre as lutas populares e as injustiças sociais de seu tempo. Falava de resistência por meio de narrativas míticas de heróis grandes e pequenos que, com suas histórias, reencenavam o drama de séculos de opressão na América Latina - dos invasores e conquistadores europeus às ditaduras, mais ou menos simultâneas, que ocorriam em vários de seus países em meados dos anos 1970.

O jornal utilizava diferentes linguagens, como desenho, pintura, fotografia e quadrinhos. Em suas páginas, equipe e colaboradores de todo o Brasil e da América Latina, criavam narrativas voltadas para o sofrimento e a resistência dos despossuídos e o extermínio em diferentes níveis (geográfico, físico, moral, espiritual) de povos e culturas inteiras. Com este perfil editorial, Versus trazia, em suas edições, heróis históricos, como Simon Bolivar, Tupac Amaru e San Martin, lado a lado de autores contemporâneos como Diana Belessi, Mário Benedetti, Pablo Neruda, Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano e Julio Cortazar.

Participaram da eclética redação do Versus tanto intelectuais, como Boris Schnaiderman e Modesto Carone; quanto jovens jornalistas e artistas gráficos; militantes do movimento negro; feministas; entre muitos outros. O porão do sobrado onde era editado o jornal abrigou desde jornalistas e militantes chegados de outros estados - e países - até a redação do jornal feminista Nós Mulheres e as reuniões do MNU - Movimento Negro Unificado. Em 1977, a partir de seu 12o volume, passou a veicular o suplemento Afro-Latino-América, que fez oposição ao regime ditatorial denunciando o mito - sustentado pelos militares - da democracia racial no Brasil.

A publicação chegou a vender 35 mil exemplares por edição, entre julho e novembro de 1977. Com a gradual abertura política, a equipe de Versus decidiu - democraticamente e com o aval de Marcos Faerman - mudar a linha editorial do jornal, que acabou por se descaracterizar de sua proposta original - cultural, política e apartidária, para se tornar porta-voz das plataformas da organização trostskista Convergência Socialista. Em setembro de 1978, após 24 edições, descontente com os rumos da publicação que havia criado, Marcos Faerman saiu do jornal.

Leia mais sobre o Versus em:

O Afro Latino América que vive em mim, escrito pela jornalista Neusa Maria Pereira (2015)

O Versus e a Imprensa Alternativa - Em busca da identidade latino-americana, dissertação de mestrado do jornalista Luis Carlos Eblak de Araújo. (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; 2002)

Jornalistas e Revolucionários. Nos tempos da imprensa alternativa, capítulo Versus: A Política Como Metáfora, de Bernardo Kucinski (ed. Scritta; 1991)

Conheça a participação de Marcos Faerman na viabilização do jornal feminista Nós Mulheres, no texto:

Marcos Faerman e o Nós Mulheres, da jornalista Rachel Moreno (2015)